domingo, 11 de abril de 2010

Dia 6 | Só deixo o meu Cariri no último pau-de-arara

Los amigos aventureiros.

Quem não foi ao Crato, aconselho... Fantástico! Cheio de coisa bacana, cheio de cultura, cheio de arte, estou apaixonado pela cidade. Moraria aqui facinho facinho... (Eu sei que já falei isso sobre Orós antes, mas não dispensaria o Crato nem pelo último pau-de-arara. Mas eis as nossas aventuras de hoje...

Bom, para começar, estamos em uma casa fantástica, como deu para perceber, cheio de gente fantástica. Os pais da Sinhá Légia são duas pessoas incríveis que nos apadrinharam de tal forma que nem sei explicar. Se não fosse por eles, talvez nada disso teria dado certo, porque o Crato e o Juazeiro são grandes demais para o esquiminha que estavamos acostumados nas outras cidades do interior.

Ao começar o dia, preparamos viagem rumo à Nova Olinda. O café da manhã reforçado é tudo culpa da super Jaça que com seus super poderes gastronômicos nos entupiu de energia e de coisas boas. Logo depois, rumamos (Eu, Nathália, Sinhá Légia e Seu Antônio) rumo à Nova Olinda. Que paisagem boa essa da chapada do Araripe. Muita coisa legal vimos e presenciamos... Chegando na cidade, fizemos nossa primeira parada na Fundação Casa Grande. Os trabalhos de produção de lá são em tv, rádio, memorial, editora e teatro. Muito orgulho daqueles cabrinhas...
"A Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri tem como missão a formação educacional de crianças e jovens protagonistas em gestão cultural por meio de seus programas: Memória, Comunicação, Artes e Turismo. Os programas de formação da Fundação Casa Grande desenvolvem atividades de complementação escolar através dos laboratórios de Conteúdo e Produção. O objetivo é a formação interdisciplinar das crianças e jovens, a sensibilização do ver, do ouvir, do fazer e conviver através do acesso a qualidade do conteúdo e ampliação do repertório" (Missão da Fundação Casa Grande).
De lá, claro, fomo conhecer a oficina do melhor artesão em couro que já existiu. Confesso que não uso couro (motivos vegetarianos), mas não dá para negar o valor cultural dos belíssimos artefatos de seu Espedito Seleiro. Proseamos tanto, mas tanto... Enquanto isso Nathália acabava-se na compra de sandalhas e mais sandalhas (mulheres?). Enfim... Eis um Mestre da cultura super simples, super da paz... Tão calmo... Tão legal... Obrigado seu Espedito.

Jaça

Seminário

Hit the road, João!

Cabinhas que nos apresentou o Museu do Homem Kariri.

Fundação Casa Grande

Seu Espedito nos espera

Nem polvo tem tanto pé pra poder tanto calçado calçar.

Peixeira à postos.

La oficina.

Voltando de Nova Olinda, rangamos a deliciosa comida de Jaça - para variar - e pela tarde tivemos uma agradável visita ao centro e aos arredores do Crato rumo aos Mestre e ao interessante povo cratense. Para começar, procuramos a oficina do tipógrafo, xilógrafo e cordelista, Mestre Luciano. Mas infelizmente já estava fechado. Que grande, eis um cara que gostaria de conversar. Mas Bitú contou-nos muito sobre a Associação e cia. Aliás, que pessoa interessante esse Bitú! E os cordeis dele são do balacobaco. Com ele diria... "A turma toda gosta". Pois é, Bitú, gostei. Depois disso, rumamos no rumo do seu Raimundo Aniceto. Muita conversa, muitas falas, muita coisa interessante. Fantástico e meio! Visitamos à casa do seu Abdoral Jamacaru. Orgamos culturais idem... Pena que a conversa foi rápida. Mas certamente outras visitas ao crato estenderam essas conversas... Como se não bastasse, ainda fomos à casa do Mestre Adenir. E eis aí um Mestre super simples, simpático, criativo e cheio de histórias. O véi dá de dez a zero na gente dos vintes e tantos anos! Ele ainda improvisou uns passinhos de reisado com a meninada lá só para mostrar pra gente. Tudo documentado, fotografado e filmado. Depois aqui posto.

Mestre Raimundo Aniceto

Raimundo e Raimunda in love. Gravei a conversa, depois aqui posto.



Nosotros + Abdoral. Quanta coisa ele deve ter pra ensinar...

Terreiro do Mestre Adenir

A "tchurminha" do Reisado.


Toda esse aprendizado não teria sido possível pela ajuda da Dona Lucenir - educadora aqui do Crato - que não só nos ajudou à chegar aos mestres, como foi pessoalmente acompanhar nossas visitas. Agradeço de coração também ao Davi cuja atenção nos foi particularmente útil na hora de encontrar tais patrimônios imateriais.

No final da noite fomos ao Bar deskolados (100% patrocinado pela skol)... Companheiros de noitada: As meninas super poderosas do Fulô de Araçá (clica aqui para ouvir), grande Bitú, geógrafo Pajé e a nossa anfitriã do hell, Sinhá Légia. Apesar do sono pertinente, ficamos até às 3h da manhã quando fomos guiados de volta para casa e onde ainda tivemos fôlego para conversar sobre a viagem, rir e etc...

Nathalia achando que piolho não se transmite.

Pessoal deskolado.

sábado, 10 de abril de 2010

Dia 5 | Encantos de Icó e chegada no Cratin de Açúcar

 Na "singela" praça de Icó

A quinta-feira foi um negócio corrido demais! De manhã demos uma breve caminhada em Orós, que estava com aquele calorzinho básico já às 8h. Conhecemos uma igreja de arquitetura bem interessante por lá. O Tarcísio gamou. Às 10h20 partimos de topic para Icó, pois o ônibus para o Crato só saía de lá. E Icó foi uma agradabilíssima surpresa!

A entrada da cidade tem um cemitério enorme e muito bonito, mas não chamou a atenção. Fiquei pensando "eeeeras, achei que Icó fosse mais bonitinha...". Deixamos as malas num guarda-volumes da rodoviária (R$1,00 por volume) e saímos pra passear em Icó. Pois pensem na surpresa! De repente entramos numa ruazinha e eu disse "olha, Tarcísio, que rua lindinha!". Fomos andando por ela e descobrimos uma histórica Icó, repleta de um belo colorido estampado nas milhares de casas, lojas e estabelecimentos, com o típico estilo art deco do interior do Ceará. A gente até brincou dizendo que era o Pelourinho daqui. Caí em tentação e depois de tempos na abstinência de refrigerante, dei-me o luxo merecido de uma coca-cola bem geladinha!

 A rua lindinha

Histórica Icó

Muita Art Deco

Tarcísio na sprite

Confesso que pequei

Andando mais à frente, fomos bater na praça de Icó, que é de longe a maior praça que já vi na minha vida, e aposto que é a maior do Ceará. Meu povo, é enoooorme! Ela tem quatro igrejas: três católicas e uma batista, daí vocês tiram... Entramos em duas delas (católicas), e eram muito bonitas. Tinham um estilo meio árabe, sabe-se lá por quê.

Igreja de Nosso Senhor do Bonfim na ponta da praça de Icó

Essa ficava no meio da praça

E essa era a catedral, no final da praça!

Na caminhada acabamos chegando no mercado antigo de lá, que é patrimônio tombado pelo IPHAN, e lá conhecemos uma dupla de vendedores de artigos de couro... conversadores que só eles! Girlene e Vo(a)lmir (em cada documento, seu nome está escrito de um jeito!), gentes muito boas, com quem proseamos sobre cultura, política, economia (pois num é!) e religião. Até o Felipão (sim, o do Forró Moral) entrou no assunto. Quase compro um chapéu de vaqueiro, mas resolvi economizar para o Seu Expedito ^^.

Girlene e Seu Vo(a)lmir

O almoço foi uma maravilha! Comemos num estabelecimento que não tinha nome, mas quem atendia lá era a Liduína, uma morena de olhos verdes super simpática que adorou a gente e achou estranho o Tarcísio não comer carne (ahahaha). Pra ela, ser vegetariano não é coisa de cearense. Comemos uma pratada de arroz, feijão de corda, cuscuz e carne por R$ 3,50 mais a cajuína, e ainda ganhamos desconto! E ainda teve mais: eu, muito lesada que sou da vida, disse a ela que nunca tinha comido fígado de porco, aí ela trouxe um pouquinho pra eu provar... quando fui ver, era sarrabulho! Pois é, eu não sabia que sarrabulho era fígado de porco, podem rir de mim. O importante é que ela foi um doce de pessoa.

Comida boa e barata

Bem, pegamos o ônibus para o Crato e vimos a diferença de paisagem entre Sertão e Cariri... Cariri é mais verde e tem uma cara de serra. Vimos um agradável por-do-sol na estrada. Descemos na rodoviária de Juazeiro (por sinal muito bonitinha), onde fomos recebidos pela minha colhega Ana Lígia (Na Léegia) e o pai dela, Seu Antônio, uma pessoa maravilhosa, e de lá finalmente chegamos no Cratin de açúcar!


Eu vou pro Crato
Já não fico mais aqui
Cratinho de açúcar
Coração do Cariri
(Luiz Gonzaga)

Hoje a noite já foi massa: encontrei o Guto Bitu, meu amigo cordelista e artista plástico, lá na Praça da Sé, e de lá caminhamos até o Sesc Cariri, onde as meninas do Fulô de Araçá, banda de chorinho de Fortaleza composta só por mulheres, estava se apresentando. Terminada a apresentação, fomos todos para a Taberna, do ladinho do Sesc, e ficamos conversando conversa de doido (Bitu e Tarcísio na mesma mesa) com cerveja pra eles e caipirinha pra mim. Começou a chover e acabamos fazendo amizade com as meninas da banda! Conheci a Bárbara, filha do Tarcísio Sardinha, e inclusive combinamos um forró! Enfim, ma-ra-vi-lha! A noite terminou na cozinha da casa de "baroa" da Ana Lígia, com a gente compartilhando presepadas de nossas vidas. Adooro!

 Fulô de Araçá no Sesc Cariri - Crato

 Grande Bitu, no estilo cabeludo!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dia 4 | Borbulhas de amor por Orós

Mochilar é preciso!

Eu prometo que esse post será o mais curto possível, pois estou numa lan house em Orós que é um estágio para o cargo de satanás do inferno... Que calor! Ufa! E eu ainda fiz a proeza de vestir uma das minhas poucas roupas 100% limpinhas... todo suado! Vou ser breve. Prometo.

Para começar o dia acordamos bem cedo em nossa pousadinha em Senador Pompeu, arrumamos nossas malas e comemos um café da manhã reforçado. Hora de ir à agência de ônibus da cidade comprarmos a passagem para Orós. Surpresa número um: O ônibus não vai para Orós, mas para Lima Campos. - De lá vocês pegam uma topic para Orós. Ok. Vamos nessa. A mulher da agência era super engraçada, qual o nome mesmo dela... Idália... Algo assim... E conversava com outra senhora sobre causos policias de Senador Pompeu. Bolamos [discretamente] de rir. Aproveitamos também para fotografar a cidade e conhecer o que ainda não conhecíamos... Cá entre nós... nada demais.

O ônibus já não foi tão agradável. Velho, sem ar, caindo ao pedaços... Por algum motivo em especial eu achei [pra variar] que deveria estar usando uma das minhas últimas roupas 100% limpinhas para a viagem... Para que mesmo hein? Nos trinta primeiros minutos eu já estava molhado de suor. Durante a viagem não pude deixar de escutar a história de uma das passageiras que merece um post separado (então fica para outro momento) e observar a belíssima paisagem do Sertão Central aos poucos de modificar. Enquanto isso a Nathália...

zZzZzZz

Dona Maria das Dores, nova amiga de rodoviária.

Em direção à Orós...

Chegamos à Orós, uma cidadezinha bonitinha e super agradável que já mereceu a visita só pela arquitetura simpática. Desembarcamos nossas malas em uma pousadinha simpatiquinha no centro da cidade e fomos até o tal do Açude Orós, o segundo maior açude do mundo, dizem. Caraca, aquilo sim é que é vista! Morreria alí facinho, facinho... Conhecemos o Seu lourival que por uma baguatela de r$ 10 reais nos fez um super passeio de barco pelo super açude... Passando pela ilha do Fagner (sim, ele tem uma ilha no meio do Orós) fomos até o Hotel Encanto das Água, um lugar facinantemente encantador gerido por uma mulher ainda mais facinante: Dona Lourdes. Foi absurdamente fantástico. Deu para aproveitar, voltar para a outra margem e curtir as águas calmas do Açude...

Orós City

Açude Orós

Seu Lourival

Boat

Hotel da Dona Lourdes, prima de um tal de Raimundo Fagner

E o sertão vai virar mar.

IEI!

Nathália da Rádio in Alfa.

Fotógrafos, fotograe...

PQP!

=}

Afogaaaaa!

Nathalia in love por Dona Lourdes.

PQP 2!


Voltamos os 1,5 Km de distância à pés... Meio tenso, mas divertido... Volta ao hotel... Banho... Roupinha limpinha... Fomos comer pizza e postar essas fotos aqui ao mundo. Agora, vamos à pracinha bombar na noite de Orós...

[Pós-atualização]: A pracinha foi interessante, mas não duramos mais do que 30 minutos... Eu estava morrendo de sono por conto do dia corrido, mas super produtivo. Particularmente, segundo minha opinião, hoje foi o melhor dia...

Dia 3 | O sertão de Senador Pompeu

 Eita sertãozão quente!

Na quarta-feira saímos da simpática Pousada Antônio Conselheiro, em Quixeramobim, e partimos para Senador Pompeu, ali do lado, na expectativa de conhecer o famoso Vale das Almas. Pelo que me lembre, tinha ouvido maravilhas dessa cidade, mas ainda na rodoviária de Quixeramobim conhecemos a Dona Nilda (ver postagem anterior), que falou da violência que tomava conta de lá, com muitos jovens envolvidos com drogas.

 Almoço no centro de Senador Pompeu: Ló, eu achei salada!

Chegamos meio cabreiros, e confesso que a cidade não nos pareceu acolhedora. Na verdade, achei Senador Pompeu meio esquisitona. A praça principal é pouco movimentada, e um trilho passa bem no meio da cidade. Ficamos na Pousada Senador (R$ 35,00), que era joinha. Ficava de frente para o longo trilho, e de longe, bem de longe, a gente conseguia ver um prédio amarelinho, a antiga sede da Refesa. Lembrei demais dos meus vizinhos de anos e meus avós postiços, Dona Toinha e Seu Manel Pinheiro, que me contaram os amores e desamores que tiveram por lá... bati muitas fotos pra mostrar pra eles!

Trilho de Senador Pompeu e láaaa no finzinho, a antiga sede da Refesa

Conhecemos dois motoqueiros gente fina, Corujito e Pedro Neto. Foram eles que nos levaram ao açude do Patu por R$ 4,00 cada, um valor muitíssimo barato para a distância e para o caminho difícil que se faz pra chegar até lá. A propósito, que caminho! Senador Pompeu me marcou muito. Lá eu vi e senti o cheiro do sertãozão. Na trilha para o vale onde fica o açude, passamos pela mata sertaneja, que estava verdinha da chuva. Vimos os jumentos correndo soltos. Um silêncio de rachar. Aquela coisa parada. O som dos pássaros. Foi uma sensação maravilhosa. E eu toda cocota na moto do Pedro Neto, levando vento e me descabelando despreocupadamente.

Na estrada para o vale

Paramos no Cemitério das Almas. Na grande seca de 1932, milhares morreram na região do vale de fome e cólera, e os corpos foram enterrados desordenadamente num pequeno terreno. Milhares de romeiros fazem a Caminhada das Almas no mês de novembro, saindo do Centro de Senador até o cemitério improvisado a pagar promessas e rezar pelos mortos. O cemitério tem um pequeno altar cheio de estátuas de santos e alguns itens inusitados, tais como "um saco de pães" e "uma caixa de remédio". Alguém me disse que as pessoas sensitivas se "arrupiam" por lá...

Uma das estátuas do altar no cemitério das almas

Olha o comprimido ali do lado

Um saco de... pão???

Corujito, Nathália, Pedro Neto e Tarcísio no Cemitério das Almas

Ainda no caminho, casarões abandonados e resquícios de um período de escravidão. De fato, vi mais gente mulata em Senador do que nas outras cidades por onde passamos. Um caminho bem interessante. Passamos pelo famoso Véu da Noiva, uma "cascata" que faz um formato de véu. É bonita, mas acabamos nem indo lá, pois estava meio seco pra tomar banho. E o Tarcísio, ao que parece, queria ir bolando pelas pedras pra lá. Todo dia ele inventa um jeito de arriscar a vida. Bem, a gente aproveitou mesmo foi o açude Patu, que é lindo lindo lindo.

 Eis o açude Patu!

Muito serelepe no açude Patu


O outro serelepe


Sombras

 
Casebre de taipa no caminho do vale

De noite, achei a cidade escura. Esquisita mesmo. Nada de mais pra fazer. Comemos um pastel de 0,70 centavos enoooorme. E depois, cama!