terça-feira, 6 de abril de 2010

Dona Nilda de Senador Pompeu

Dona Nilda

A gente tem cruzado com umas figuras bem impressionantes. É o caso da Dona Nilda, uma cearense de 39 anos (com aparência de bem mais) que conhecemos hoje mesmo na rodoviária de Quixeramobim. Estávamos a caminho de Senador Pompeu (onde nos encontramos neste exato momento) e Dona Nilda também viria por essas bandas. Então aproveitamos pra perguntar sobre a cidade.

Ela morava no "Vinte", numa espécie de vila aqui próximo, situada antes da entrada da cidade. Mas hoje ela mora na "Parada", que fica depois da cidade, há quase dois anos. Mudou-se pra lá após seu marido ter sido assassinado, numa noite de São João, por um jovem de 27 anos. Mais um dos crimes banais que tomaram conta de uma Senador Pompeu que até anos atrás era "o melhor lugar pra se morar" segundo Dona Nilda. Uma violência recente, que quem há tempos não vem por aqui não tem conhecimento.

A cunhada deixa o esposo pra se envolver com um "marginal" que não aceita chifre, mas leva mesmo assim, e com sua macheza ferida a vinga com uma surra e um tiro no pé, fato que leva o filho de Dona Nilda a tomar satisfação com o "marginal", que por sua vez agride o outro filho de Dona Nilda, que por sua vez conta ao pai, que se vê envolvido na briga da cunhada e é quem paga o pato, levando não sei quantos tiros, e não só ele, como outras pessoas na casa de Dona Nilda, esta tendo sofrido 5 tentativas de tiros, mas só um pegou de raspão no peito esquerdo. Depois da saraivada, o enterro de seu marido, único morto, e a família toda internada no hospital por sequelas físicas e emocionais.

Dona Nilda passou 6 meses com depressão. O negócio rendoso que tinha no "Vinte" ela fechou. Vendeu umas das casas por dez mil reais, valor 3 vezes menor do que o custo de construí-la. Mudou-se para a "Parada" com seus 4 filhos. E desde então, pra ela, "a vida se acabou". Vive de pensão, seu mais novo, de 15 anos, está numa adolescência "pesada". Um deles tentou se matar. O outro engravidou a namorada. Pelo menos a família é unida. E pelo menos ainda tem os pais, é o que ela diz. Isso, aquela senhora com aparência de 45 nos disse com o coração apertado e querendo chorar.

Eu perguntei por que Senador Pompeu estava assim desse jeito, e ela explica que o motivo são as drogas. Os meninos vão para São Paulo e voltam drogados. Montam um negócio aqui, envolvem outros e acabam gerando uma criminalidade torta. Em Senador Pompeu tem favela. Um interior minúsculo com favela.

Conheci Senador Pompeu ainda criança, ouvindo as histórias da Dona Toinha com o Seu Manel Pinheiro, um casal de velhinhos que foram meus vizinhos no Ruy do Ceará e que me viram nascer e crescer. Uma parte da história eu já entendi: um trilho passa bem no meio da cidade, e Seu Manel era maquinista. O resto eu gostaria de ver com a mesma gaiatice da Dona Toinha.

Trilho no meio da cidade de Senador Pompeu

2 comentários:

  1. eu fiquei sabendo dessa situação de drogas no interior - e se nao me engano o texto falava de senador pompeu mesmo - por uma materia num sei aonde, nao me recordo agora, e tambem por conversas com a minha tia que mora em sobral, trabalha na area de saude/educação e tal e me contou sobre essa realidade - deveras triste - desconhecida pelo urbanenses...

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  2. Isso dá um ótimo tema de pesquisa!!!

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